
Você já se perguntou sobre a necessidade de passar meia geração estudando assuntos genéricos. Você fez engenharia cartográfica ou letras, mas precisou estudar os anelídeos e a tundra do norte do Canadá para entrar na faculdade. Depois disso, você deixou as minhocas de lado e o Canadá voltou a ser para você a terra fria de Terrance & Phillip. Se aquela dúvida permaneceu, eis as respostas:
1) Quem quer ser engenheiro precisa estudar matemática e física e ignorar todo o resto, certo? Errado. Nossa noção de necessidade é imperfeita. Pensando bem, nossa noção do que é uma carreira profissional também é bem chulé. É difícil saber do que precisamos até estarmos numa situação em que não podemos conseguir aquilo de que precisamos. Por isso é bom ter conhecimento, o que inclui estudar minhocas. Você nunca sabe quando vai precisar de seus conhecimentos sobre minhocas.
2) Ok, você nunca precisou de seus conhecimentos sobre minhocas e não conhece ninguém que tenha precisado disso. Mas pense nas alternativas. Enquanto você estudava os anelídeos, você deixou de assistir à oitava reprise de “Lucky, o cão biônico” e perdeu os comentários sobre o escândalo envolvendo uma celebridade de que você nunca ouviu falar. Talvez os anelídeos não sejam mais importantes do que a Sessão da Tarde ou do que os programas vespertinos, mas, vem cá, você conhece alguém que desenvolveu grandes aspirações quando soube com antecedência o que vai acontecer no próximo capítulo da novela das 8?
3) Buda dizia que somos aquilo que pensamos. Não sugiro que você fique pensando na tundra canadense, mas é bem melhor do que pensar em beber cerveja, por exemplo. Nossas ações seguem aquilo que está em nossa cabeça. Se você a ocupa com cerveja, com tundra ou com anelídeos, fatalmente sua vida seguirá o caminho dessas coisas. É bem melhor que sua vida seja mais ampla do que o Globo Repórter e seus intervalos comerciais.
4) É muito bom ser sociável. Mesmo que você seja um tímido incurável, é admirável quando encontramos pessoas que sabem ouvir, que sabem do que estamos falando. Não só pela economia de palavras, mas porque reforçamos aquela esperança de encontrar vida inteligente nos limites deste país. E vida inteligente não é algo que brota na gaveta da geladeira (isso se chama bolor); vida inteligente se constrói e se mantém diariamente.
http://gropius.org/2007/03/28/quatro-razoes-para-estudar/